quarta-feira, 16 de setembro de 2009

estava com ela. estava numa praia. estava tocando com a maria rita. estava cuidando da casa de campo, eu e meus cabelos brancos (cheia deles!). estava comprando uma gaita numa feira numa cidade bem longe daqui. estava vendo estrelas e o que mais elas traziam. enfim, estava no metrô. enfim, um banco vazio! é, esse horário é mesmo tranquilo. a cabeça no vidro nervoso. longe dali. aí veio se sentar do meu lado aquela senhora. vestido azul-bebê desbotado. sapatos brancos (ou quase isso), meia daquelas da-cor-da-pele (sempre me perguntei o porquê desse nome de cor. afinal, há tantas e tantas peles...!), com um rasgo na canela direita que terminava em algum lugar ali dentro do azul-bebê. uma flor vermelho-sangue no peito esquerdo, um colar de pérolas (essas, sim, quase-brancas), um penteado exibindo as raízes brancas do loiro-mentirinha e um batom da cor da flor. podia ver, mesmo de longe, a vermelhidão do tal cosmético fluindo nas rugas daquela expressão séria, mas que já riu muito. rugas como caminhos moldados, batom como rios. será que em mais algumas horas haverá vermelho em cada traço? com licença. um sorriso, e ela estava à vontade a meu lado. que sorte, a minha, esta senhora não ser adepta dos perfumes-mais-desagradáveis-do-mundo. assim não fico pensando em cheiro de velhice. tomara que não exista! que bom que achei lugar pra sentar. quase nunca tem, sabe? pois é. esse horário é bem tranquilo mesmo... nossa! li este livro há muitos, muitos anos. será que continua bom? ah, acho que sim! tá gostando? uhum, bastante! sabe, me fez pensar bastante, quando li. hum... em quê? ah, em tudo, sabe, minha filha? em tudo. isso de ficar pensando na vida... é o que eu faço o tempo todo. entendo. vocês, jovens, sempre tão apressados, ansiosos por nem-sabem-o-quê, quase nunca param pra pensar na vida. mas você vai ver... basta que a vida lhe dê um descanso, como dá pra nós, os velhos, que é só o que você vai fazer. ai, deixa eu ir! tchau. tchau e um sorriso. enfim, a cabeça no vidro nervoso. longe dali.

el historial